segunda-feira, 2 de maio de 2011

O silêncio... e a luz.



Sempre fui uma pessoa quieta, calado muitas vezes. Talvez tenha sido influência da minha infância. Por ter sido gordo, fui muitas vezes humilhado e menosprezado por meus coleguinhas de escola. Os apelidos sempre foram bem caridosos e sensíveis à minha realidade. Nada que me deixasse traumatizado. Isso apenas me propiciou um certo distanciamento das pessoas. É óbvio que uma criança que passa por situações desconfortáveis iguais às que eu passei (à não ser que ela tenha uma inclinação à personalidade masoquista) precisa utilizar alguma forma de autodefesa. Esta foi a minha (ou uma das minhas).  Esse distanciamento me fez aprimorar a capacidade de observar. Observar determinadas situações sem me envolver. De certa forma vejo isso positivamente, pois me possibilitou ser a pessoa que sou hoje. Não quer dizer que eu seja uma pessoa anti-social. Gosto muito de estar com as pessoas, acho a convivência e a vida em sociedade essenciais para meu aprimoramento. Apenas não me deixava seguir pelas “tendências” e opiniões da maioria. Acho que por conta disso que não gosto de conversar sobre carros e futebol.
Paralelamente à esta questão, muitas referências masculinas que tive na infância foram pessoas que não gostavam muito de falar. Mais especificamente posso citar o “Rambo” (o herói do filme e desenho) e meu pai.
Acho que por conta dessas coisas – e também pelo meu envolvimento com as artes marciais - o tema “silêncio” sempre foi de grande fascínio para mim.

SILÊNCIO
J. L Spalding

Inaudíveis movem-se o dia e a noite
E sem ruído cresce a flor:
Silenciosas são as pulsantes asas de luz
E muda escoa a hora.

A lua não profere palavras quando
Passeia através do céu aberto:
As estrelas fogem sempre em silêncio
E sem cânticos cintilam através do ar.

O mais profundo amor é mudo também;
Coração magoado não se lamenta:
Quão tranqüilos os zéfiros quando... sopram!
Quão calma a rosa inteiramente desabrochada!

O pássaro batendo asas no céu vespertino
Voa em frente sem cantar;
Os anos que passam e se acumulam
Escoam em mudo tropel.

Os peixes deslizam nas profundezas do líquido
E nunca pronunciam uma palavra,
Os anjos esvoaçam ao nosso redor, recreiam
E nenhuma voz até agora escutamos.

Os mais elevados pensamentos são inexprimíveis,
A mais santa esperança é muda,
Em silencio cresce o pensamento imortal,
E alegrias profundas brotam caladas.

Enlevada adoração não tem língua,
Sem palavras é a mais santa súplica;
Dentre montanhas a mais alta manifesta-se.
É tranqüilidade em toda parte.

Com dulcíssima música o silencio se funde
E a silenciosa exaltação é a melhor;
Em silêncio a vida se inicia e termina silenciosamente.
Deus não pode ser expresso.”
(Retirado do livro “Clínica de esportes – Karatê” USP. Tradução Prof. Dr. Mauro D. Cattani – USP)

Durante um tempo fiquei tentando conciliar minhas reflexões sobre o silêncio com o ensinamento moral do Mestre a respeito de não colocar a candeia de baixo da cama. A parábola é assim: “Ninguém há que, depois de ter acendido uma candeia, a cubra com um vaso, ou a ponha debaixo da cama; põe-na sobre o candeeiro, a fim de que os que entrem vejam a luz.”
Encontrei um texto de Emmanuel que fala muito bem sobre isto. Está no livro “Abrigo”, psicografado por Francisco Cândido Xavier:

“Não olvidemos que a luz brilha dentro de nós.
Não lhe ocultemos os raios vivificantes sob o espesso velador do comodismo, nas teias do interesse pessoal.
Entretanto, não nos esqueçamos igualmente de que o sol alimenta e equilibra o mundo inteiro sem ruído, amparando o verme e a flor, o delinqüente e o santo, o idiota e o sábio em sublime silêncio.
Não suponhas que a lâmpada do Evangelho possa fulgurar através de acusações ou amarguras.
Enquanto a ventania compele o homem a ocultar-se, a claridade matinal, tépida e muda, o encoraja ao trabalho renovador.
Inflamando o coração no luzeiro do Cristo, saibamos entender e servir com Ele, sem azedume e sem crítica, sem reprovação e sem queixa, na certeza de que o amor é a garantia invulnerável da vitória imperecível.”

E eu termino o post com um trecho do livro “O problema do ser, do destino e da dor”, de Leon Dennis:
“(...) É no silêncio que se elaboram as obras fortes. A palavra é brilhante, mas degenera demasiadas vezes em conversas estéreis, às vezes maléficas; com isso, o pensamento se enfraquece e a alma esvazia-se. Ao passo que na meditação o Espírito se concentra, volta-se para o lado grave e solene das coisas; a luz do mundo espiritual banha-o com suas ondas.”